Durante décadas psicanalistas reproduziram uma postura preconceituosa face à educação. A concepção de que o projeto civilizador se sustenta sobre a repressão e sobre o imperativo para que o sujeito sublime suas pulsões, implicava que toda educação seria repressora e contrária à ética da psicanálise. No entanto, a “hipótese repressiva”, como a nomeou Foucault, deu lugar à compreensão de que o desejo e a sexualidade não são “naturais”, mas o produto de configurações históricas e transformações criativas frente ao instituído. Sándor Ferenczi e Donald Winnicott conceberam que uma educação psicanaliticamente orientada seria capaz de fornecer ao sujeito e à comunidade ferramentas para a emancipação da moralidade vigente. O livro que Alexandre Patricio de Almeida nos apresenta é fruto de extensa pesquisa acadêmica e de ampla experiência em instituições educacionais. Suas reflexões nos indicam a evidência de que pensar o sujeito dissociado do campo educativo seria regredir a uma psicanálise naturalista, ingênua e, portanto, estéril; assim como pensar a tarefa educacional desconsiderando a pulsão e o desejo implicaria tolher a capacidade criadora das nossas crianças e adolescentes.
Daniel Kupermann
Psicanalista e professor livre docente do Instituto de Psicologia da USP
É psicanalista, membro da International Winnicott Association. Mestre e doutor em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Autor de diversos artigos científicos e livros, incluindo o best-seller Psicanálise de boteco: o inconsciente na vida cotidiana (Paidós, 2022). Criador do podcast Psicanálise de boteco. Publicou, recentemente, pela editora Blucher (2023), as obras: Por uma ética do cuidado: vol. 1 (Ferenczi) e vol. 2 (Winnicott). Finalista do Prêmio Jabuti, em 2023.
Saiba mais
Apresentação: Volume 1: Ferenczi
Prefácio geral: Por uma educação mais humana e menos excludente
Prefácio para o volume 1: Sándor Ferenczi para educadores e psicanalistas
Introdução
1. A ética do cuidado na psicanálise e na educação: diferentes espaços, novos diálogos
2. Ferenczi como pensador político: críticas à educação opressora
3. Transferência e introjeção: a metapsicologia ferencziana além da clínica
4. O desenvolvimento do sentido de realidade e a construção simbólica
5. A clínica psicanalítica de Ferenczi e a escola como um lugar de experiências transformadoras
6. A teoria do trauma de Sándor Ferenczi e sua importância à prática educacional