A série se dedica a publicar livros que tratam das dores da existência no contexto dos fenômenos sociais e políticos contemporâneos, tendo como referencial a teoria e a clínica psicanalítica em diálogo com outros discursos. Abordar esses fenômenos não para catalogá-los, mas essencialmente interrogar aquilo que os determina e, principalmente, cingir suas incidências subjetivas e os modos possíveis de respostas em face do Real.
Ensaio psicanalítico sobre o tempo
Se você quiser saber o que é o tempo, abra este livro e verá como, segundo Santo Agostinho, proponho uma escrita lógica que une suas três instâncias: o presente do passado, o presente do futuro e o presente do presente. No centro desse nó borromeano, coloco aquele presente do presente que representa, para todos nós, o tempo como um objeto que ordena a palavra, que permite a narrativa, que usamos para enunciar nossas expectativas, mas que permanece verdadeiramente inatingível.
Esse objeto que escapa à teia da palavra pode ser relacionado ao tempo que a física quântica relativiza e ao tempo subjetivo que a filosofia se esforça para definir. Daí a ideia de considerar o tempo como um objeto que caracteriza cada um em sua maneira de ser, em sua maneira de se alienar ou de se separar do tempo do outro, um objeto que o encoraja em sua pressa de agir e ao qual o sujeito se iguala quando está no tempo do seu desejo.
R$ 62,00
Um caso clínico-político
Nesta obra, a autora detecta de forma inédita o modo de operação dos processos autoritários sobre o sujeito em situações de violência e subalternização – o impedimento do luto aí comparece como estratégia política de silenciamento. Avança também na direção do tratamento dessas questões, fundamentando a prática psicanalítica clínico-política realizada no território onde os sujeitos tecem seus cotidianos, moram, trabalham, nascem e morrem.
Este trabalho foi um dos que fundamentou e alicerçou o lugar da política na clínica psicanalítica quando a maioria dos psicanalistas julgava ser a política um campo exterior ao campo psicanalítico, ou que a psicanálise poderia contribuir para a análise filosófica e/ou para a crítica social das violências, sem desdobramentos para a prática clínica, sem a escuta dos sujeitos enredados nessas tramas de poder.
Miriam Debieux Rosa
R$ 100,00
ou até 2x de R$ 50,00
A-bordagens psicanalíticas
Os escritos chamados apócrifos foram aqueles destituídos de autoridade canônica. Aqueles que ficaram de fora, à margem do discurso oficial, religioso.
Em Ensaios apócrifos Ana Gianesi e Conrado Ramos apresentam reflexões a partir do diálogo livre com textos de autorxs de diferentes tradições e militâncias, quais sejam: feminismos, antirracismo, estudos queer, teoria crítica, povos originários e estudos descoloniais.
O caminho é fragmentário e constelar porque corresponde ao percurso aberto de aprendizagem dos autores que, como psicanalistas lacanianos, perceberam a necessidade de frequentar territórios muitas vezes considerados avessos nos corredores institucionais. De maneira pouco habitual eles tentam olhar para a psicanálise com as ferramentas que encontram em seus novos atravessamentos teóricos ao invés de olhar para as teorias em questão com as ferramentas da psicanálise. Resulta disso a crítica à psicanálise e ao mesmo tempo a construção de novas possibilidades clínicas que, defendem os autores, seguem sendo psicanalíticas, porém, sem os ranços conservadores com os quais a vestem os ainda salvacionistas do pai.
R$ 105,00
ou até 2x de R$ 52,50
“As línguas de contrabando são um pouco de tudo isso: elas são queridas, adoradas, são propriedade daqueles que se creem seus depositários. Elas são uma música, uma melodia, um embalar; são invocadas ou convocadas para consolar ou para sustentar grandes indignações, sagradas e ridículas indignações.
Escondidas do olhar alheio, parecem ter mais relação com o olho que vê do que com o ouvido que escuta.
Mas o contrabandista é raramente consciente daquilo que porta. Ele é como um fraudador que, quando chega na alfândega, se dá conta com horror de que carregava, com toda boa intenção, mercadorias que de pronto, sob o olhar indignado ou inquisidor do outro, se revelam proibidas.
Contrabandista sem o saber, esse homem não usa jargões, mas em sua escritura aparecem, como com Albert Cohen, que escrevia em francês – e com que elegância –, elementos de uma língua que há muito não se usa mais. Assim, como filigranas, o natural de Corfu ou o crioulo, o parisiense de Belleville ou o italiano, o alsaciano, o espanhol ou o árabe, vêm marcar com seu selo um estilo, dotando-o de um perfume incomparável.
Desse modo, tal literatura, ou deveríamos dizer toda a literatura, irá carregar nas páginas mais sublimes ou nas mais banais, nas mais preciosas ou nas mais clássicas, paisagens e perfumes, barbarismos e os termos em desuso que testemunham e palpitam com vivacidade esta coisa atapetada no mais profundo da nossa subjetividade: a língua de contrabando.”
Jaques Hassoun
R$ 60,00
Samantha sabe que tomar o indizível, o invivível, o inimaginável, como tema de pesquisa é caminhar nos limites da interpretabilidade – Die Grenzen der Deutbarkeit – e é justamente dessa posição assumida ao longo do livro que resulta uma costura delicada na qual os sonhos, esse tema central da obra freudiana, são o inusitado e intrigante ponto de articulação entre a vivência nos campos e a psicanálise.
A autora traz relatos de sonhos que foram narrados em livros, escritos em papéis, escondidos sob as roupas, enterrados para serem encontrados. Eles são cuidadosamente ordenados por temas – sonhos de pão, de amor, de narração, de ruptura de fé, oraculares, sonhos fora do tempo.
No limite da mais desumana condição de angústia e desamparo, sonha-se. Teriam os sonhos nos campos contribuído para a sobrevivência daqueles que puderam contá-los depois? – pergunta-se Samantha. Mesmo nessa condição em que aparentemente já não resta mais traço de humanidade, o psiquismo trabalha a serviço da vida e o sonho revela sua mais básica função psíquica, a de fazer dormir.
Michele Roman FariaR$ 107,00
ou até 2x de R$ 53,50
As tatuagens in memoriam em leitura psicanalítica
Enquanto signo não standard de luto, as tatuagens surpreendem pela rápida e ampla absorção não só entre jovens. Quando iniciamos nosso estudo, nos perguntávamos sobre o estatuto desse signo e sua função no luto, intrigados como estávamos se esse tributo não seria apenas mais uma “nova onda ornamental” no contexto da banalização da morte e do luto ou até mesmo uma forma de negação. Mas quem realmente teria a palavra para dizer o que se passa senão os sujeitos tatuados por ocasião de luto?
Se atualmente o luto é vivido solitariamente, sem contar tanto quanto no passado com o suporte dos ritos e do público que o acompanhava, sobra cada vez mais para o sujeito a tarefa de encontrar ou inventar um modo particular de ritualizar o pesar fazendo valer o direito à memória e à rememoração (logo, comemoração) dos mortos.
Nesse contexto, as novas expressões de luto parecem responder à persistente necessidade humana de fabricar signos para se lembrar dos mortos conferindo-lhes alguma duração. Mas não só. No luto que abre um “furo no real”, convoca-se nada menos que todos os recursos simbólicos e imaginários para forçar, no furo, uma escrita possível da perda. Se “a pele é o que há de mais profundo no homem”, como escreveu o poeta, a tatuagem in memoriam transita entre dois registros, o do visível e o do invisível. Sua presença é uma sombra, a marca de uma ausência irremediável.
R$ 181,00
ou até 3x de R$ 60,33
Com relação à psicanálise, a inversão é completa. O discurso dominante se ocupa de traumatismos que não são sexuais, nem originários ou genéricos, que não têm nada de constitutivo, que são acidentes da história, ao mesmo tempo coletiva e individual. A esses traumatismos, que é preciso chamar de contingentes, ele acrescenta uma suposta vítima inocente, que cai sob o julgo do autómaton, com efeitos pós-traumáticos que o liberam de toda implicação subjetiva, e à qual somente devem ser dispensados cuidados e reparação.
Evidentemente, há aí algo a se julgar, e inclusive resolver quando o problema do tratamento se apresenta.
Vale ressaltar que a psicanálise, tal como entendo a psicanálise lacaniana, está ali lutando, luta ética contra toda concepção psi que, em sua condescendência bem-intencionada, faz do sujeito uma marionete da sorte. Trata-se de saber, especialmente para os psicanalistas, se o trauma que está no cerne do inconsciente, como segredo dos sintomas, é da mesma classe que os traumatismos que o discurso contemporâneo produz. Qual é a sua incidência nesses novos traumas?
A historicidade do tema do traumatismo, bem como a da angústia, indica por si só em que medida ele se relaciona com a ordem do discurso que regula os laços sociais, como também a subjetividade.
R$ 41,00