Primeira versão (1901), precedida de “O mecanismo psíquico do esquecimento” (1898)
R$ 80,00
“Nada de ‘tour pelo Sul’ este ano; além do mais, a companheira de viagem está em falta — por causa da doença de Minna, Martha também se encontra inamovível. Vida cotidiana verá a luz do público por esses dias, mas provavelmente nascida apenas pela metade, de modo que só poderei te enviar a separata em agosto. É grande demais para um único número da Monatsschrift [Revista Mensal].”
Sigmund Freud
Trecho de carta a Wilhelm Fliess,
4 de julho de 1901
Ainda com 62 anos de idade, começou a compor este ensaio no começo de 1919, logo após a Primeira Guerra Mundial, que havia sido deflagrada em 1914 e terminado havia poucos meses, no ano anterior.
Num ambiente marcado pela intensa reconfiguração política e geográfica, em 17 de março, ele escreveu a Sándor Ferenczi dizendo que, mesmo não sendo patriota, não deixava de ser torturante pensar que, agora, praticamente o mundo todo lhe era estrangeiro; aliás, devido à dissolução do Império e à criação da República Húngara, o próprio Ferenczi já se encontrava noutro país. Como boa parte dos habitantes de Viena, Freud também estava sofrendo as agruras do colapso da economia austríaca, uma vez que a alta inflação desvalorizara sobremaneira a moeda local — e, evidentemente, reduzira a nada os montantes poupados por aqueles que atravessaram os anos de conflito. Com isso, vendo-se forçado a receber a maior quantidade possível de casos, também deu preferência aos estrangeiros, pois vinham munidos de moedas fortes.
Nesse período, Freud atendia mais em língua inglesa do que em alemão, com a agenda abarrotada de analisantes do Leste Europeu e dos Estados Unidos da América — muitos deles desejosos da formação analítica no divã do inventor da disciplina à qual se dedicavam. Foi nesse período, também, entre meados de março e abril, que ele redigiu o primeiro manuscrito de Além do princípio de prazer, contemporâneo à publicação da quinta edição de A interpretação dos sonhos. Com o trânsito não mais impedido pela guerra, Freud viajou em 15 de julho para fugir do verão e desfrutar das águas curativas da Villa Wassing, na região da estância termal alpina de Bad Gastein: a primeira viagem em cinco anos. Já em 9 de setembro, o destino foi Hamburgo, onde ficou até o dia 24 para visitar Sophie — o seu último encontro com a filha, que viria a falecer em janeiro do ano seguinte, vítima da gripe espanhola. Ainda em outubro de 1919, quando o término da guerra estava para completar um ano, Freud se tornou professor titular da Universidade de Viena; fato que, como ele declara, não lhe significou novos compromissos, tampouco grandes recompensas financeiras, mas garantiu prestígio o suficiente para que ele passasse, em certos círculos, a ser visto com outros olhos.
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