Ao longo de todo o seu percurso, o problema crucial da sugestão nunca deixou de preocupar Freud. Onde e como, na psique, atuava aquela força misteriosa, tida por causa dos efeitos obtidos pela hipnose? Por que estes não eram duradouros? E não era paradoxal procurar eliminar os sintomas bastante reais da histeria persuadindo o paciente de que o que sentia era apenas fruto da sua imaginação? Com a perícia narrativa de um escritor de policiais, Fernando Aguiar nos conduz pelos meandros clínicos e teóricos que levaram Freud a resolver o enigma. Em síntese, isso se deu situando a sugestionabilidade em relação às balizas fundamentais da Psicanálise: os conceitos de inconsciente, sexualidade e transferência.
A copiosa documentação analisada pelo autor evidencia a inanidade de uma acusação que certa filosofia da ciência (Adolf Grünbaum e outros) costuma fazer à `Psicanálise: porque colhe o material para suas construções numa situação supostamente “maculada de modo irremediável pela sugestão transferencial”, ela não teria valor científico, e muito menos terapêutico. A remoção desse entulho epistemológico, comparável à limpeza das cavalariças de Áugias da mitologia grega, soma-se às demais qualidades do livro, que sem dúvida marcará época nos debates entre a nossa disciplina e suas áreas conexas.
Renato Mezan
É graduado em Psicologia e mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), doutor em Filosofia (pós-doutorados em Filosofia e Psicologia) na Université Catholique de Louvain (UCL, Bélgica) e professor titular aposentado no Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É também autor de artigos sobre psicanálise e universidade; psicanálise na universidade; epistemologia, metodologia e história da psicanálise; interações da psicanálise; clínica psicanalítica de Freud.
Saiba mais
Prefácio: Por amor a Freud
Introdução
1. Dos primeiros anos de formação profissional
Freud e a medicina
Entre a pesquisa e a clínica médica
Da filiação neurológico-psiquiátrica de Freud
A reviravolta de 1885-1886
2. Da neurologia à clínica visuelle
Freud e o hipnotismo
Tratamento psíquico versus tratamento do corpo
Freud com Charcot, em Paris
Freud com Charcot, em Viena
3. O fator da sugestão na clínica psicológica
A luta pela clínica em Viena
O prefácio para o livro de Bernheim
Paris versus Nancy: a posição nuançada de Freud
A crítica freudiana à noção de sugestão
4. Rumo à associação livre
Tratamento sugestivo e tratamento catártico
Das origens da coisa sexual
Vida e morte da primeira teoria sexual
A sequência do abandono da teoria da sedução
5. Da sugestão à transferência
Sugestão e transferência
A dinâmica da transferência
Sugestão ou transferência
A libido: do discurso freudiano sobre o amor
Identificação e estado amoroso
Sugestionabilidade: o sintoma hipnótico
6. Prolongamentos da clínica da transferência
O “Caso Methodik”
Transferência de pensamento e contratransferência
Das questões técnicas e éticas na psicanálise freudiana
Sobre o assentimento em psicanálise
7. O humor analítico: o modelo witzig de interpretação
Das razões clínicas para estudar o Witz
O Witz: modelo para a escuta analítica
Escutar com o terceiro ouvido...
Por que (ainda) ler Freud?
Referências