“Diz-se que fractal é o modo de nomear a característica de uma diversidade de formas que, em suas partes, repetem a estrutura do todo... Bem, cara leitora, o livro que tens em mãos não somente toma o fractal como um de seus vetores como é, ele mesmo, um livro fractal; uma escrita que, fruto de uma operação sofisticada, performa o tema sobre o qual discorre... A pergunta fractal que costura estes ensaios se insurge da leitura da obra de Elena Ferrante: o que sua escrita pode nos ensinar sobre a potência de um corpo... quando este não é experienciado a partir da estabilidade…? Que corpo é produzido por uma escrita de si, sustentada no mínimo possível de eu, um mínimo que chega ao limite de sua desmarginação…? Que efeitos políticos – no que ressoa nesse termo a vida em comunidade – a localização... desse corpo pode implicar? É a esse ponto que a leitura deste livro nos leva; ponto em que o centro, como organizador da forma, tem sua função suspensa.”
Excerto do Prefácio
Psicanalista, pesquisadora e ensaísta. Nasceu em Aracaju (SE), atualmente mora em São Luís (MA). Desde a graduação em psicologia investiga a relação entre psicanálise e literatura, caminho que também percorreu no mestrado em Psicanálise: Clínica e Cultura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e no doutorado em Letras pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) por meio da articulação da obra de Elena Ferrante com a psicanálise, a escrita e o corpo na literatura. Participou do Núcleo de Pesquisa em Psicanálise, Educação e Cultura (NUPPEC) da UFRGS e atualmente integra o grupo de pesquisa Práticas da letra: escrita, leitura, tradução, psicanálise da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Centro Internacional e Multidisciplinar de Estudos Épicos (CIMEEP) da UFS.
Saiba mais
Prefácio
Simone Moschen
1. nós herdamos as margens
2. no espelho surgiu uma estranha
3. era como o corpo de uma mulher exausta pelas próprias vicissitudes, sem cabeça, sem pernas, sem braços nem mãos
4. aquela dissolução involuntária do meu corpo me assustou como a ameaça de uma punição
5. (a desmedida segundo a medida)
6. um vestido vazio de mulher pendurado tem um efeito de paisagem de livro que se lê
7. naquele momento ainda era quase uma desconhecida, mas mais tarde tornou-se o espelho da sua própria palavra por encontrar
8. o corpo adquiriu o modo e sabe que, na travessia dessa névoa de que falei, ele próprio muda de cor e de nome
9. uma escrita em forma de redemoinho que tenta chegar ao que é difícil de dizer, ao que está no fundo e mal se vê
10. quando era criança desenhava barcos assim, começados por uma espiral; de que nunca me tinha lembrado até hoje
11. e, no entanto, a mulher existe, mas é mais ampla do que se esperava
12. (por que é que o pensamento não conclui?)
Referências
Agradecimentos
nota da autora, mapa para se perder