Encontros e Desencontros entre a Teoria Feminista e a Sociologia Contemporânea
Na segunda metade do século XX, e particularmente a partir da década de 60, a teoria social ocidental passou por uma série de questionamentos e revisões, que incluíam novos debates sobre a relação entre as obras reconhecidas como o "cânone" das diversas áreas disciplinares e as mudanças que dariam lugar a um mundo social em alguns aspectos muito diferente daquele que formou o contexto histórico das obras canônicas. Por outro lado, a emergência dos "novos movimentos sociais" que permitiram uma nova voz a certos grupos sociais antes excluídos da produção do conhecimento acadêmico e intelectual, também conduziu a novas interpretações da história e das relações sociais - no Ocidente e no resto do mundo. Neste cenário, um dos movimentos sociais e culturais mais importantes foi o movimento feminista, que produziu dentro e fora da academia novas interpretações da história e da sociedade, a partir das experiências das mulheres e de sua problematização do que vieram a se chamar "relações de gênero".
Esta tese tem por objetivo o estudo de um "encontro" particular deste contexto: o da teoria feminista e da sociologia contemporânea. Ao mesmo tempo que surge a teoria feminista contemporânea (nascida de esforços simultâneos e conexos realizados em diversas áreas das ciências humanas), também inicia-se uma ampla revisão das perspectivas clássicas na sociologia acadêmica. A questão central deste trabalho trata das formas pelas quais a contribuição feminista é recebida no campo disciplinar da sociologia (e, de maneira mais ampla, na teoria social), constatando-se que os canais de comunicação estão apenas parcialmente abertos. Por meio dos depoimentos e observações de teóricas feministas, são levantadas algumas explicações para tal resistência. Por sua vez, o exame do trabalho de importantes sociólogos da contemporaneidade, propiciam a descoberta de alguns dos mecanismos teóricos mais concretos da recepção, incorporação ou rejeição da perspectiva feminista na sua obra. A conclusão final é a de que, apesar das resistências, a teoria feminista conseguiu fazer uma contribuição fundamental para a ampliação do campo de visão da sociologia e seu discurso sobre a modernidade. Este trabalho oferece ainda algumas sugestões teóricas e práticas para a incorporação mais plena da teoria feminista - e dos estudos pós-coloniais - à sociologia contemporânea, que também se beneficiaria de uma troca mais aberta com outras áreas disciplinares das ciências humanas.
Nasceu em Milwaukee, Wisconsin (EUA) e mora no Brasil desde 1991. Fez seus estudos de graduação em Sociologia na Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), o mestrado (M.Phil.) em Sociologia na New York University (1991) e é Doutora em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004). É professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Fede-ral do Paraná desde 1992, onde foi co-fundadora do Núcleo de Estudos de Gênero. Atualmente, pesquisa e publica dentro de várias áreas e temáticas da Sociologia e dos estudos culturais, incluindo gênero, corpo e prática esportiva feminina, gênero e cinema e o estudo dos discursos sociológicos contemporâneos. É também poeta e tradutora.
Saiba mais
1 - Os anos 60: movimentos sociais, transformações culturais e
mudanças de paradigmas
Os anos 60: vozes de dissensão
Luzes na escuridão: o início da revolta nos anos 50
A Nova Esquerda, a contracultura e o "reencantamento da política"
2 - "Novos sujeitos", novos movimentos e a gênese de novas
perspectivas teóricas
3 - Vozes diferentes: a emergência e a construção da teoria
feminista contemporânea
O gênero do cânone: a ruptura epistemológica a partir de
Simone de Beauvoir
Vozes diferentes: a teoria feminista, as perspectivas pós-modernas e a
"epistemologia das alteridades"
Mulheres pioneiras: as teóricas do "patriarcado capitalista" e sua geração
4 - Teoria social e discursos sociológicos do "pós-68"
A revolução que não ocorreu?
De Freud a Foucault e às feministas: críticas à noção do sujeito da razão
Alguns teóricos da modernidade: Sennett, Giddens, Touraine e Habermas
Richard Sennett: cidade, modernidade e as culturas do público e do privado Anthony Giddens: intimidades feministas
Alain Touraine: Um sujeito menos universal? Jurgen Habermas e
a "colonização do mundo da vida"
5 - Reformulando narrativas
Gênero, sociedade, modernidade
As Mulheres e os "outros Outros": Modernidades múltiplas?
Feminismo e pós-colonialidade
Conclusões
Ampliando o cânone: políticas e estratégias
Contenção
Disciplinaridade
Estratégias
Referências Bibliográficas