A psicologia social nasce, no final do século XIX, a partir da constatação e conceitualização de processos psíquicos específicos às situações sociais. Processos de natureza psicológica que, contudo, não podem ser descritos como mera somatória da psicologia dos indivíduos. Por outro lado, tais processos tampouco podem prescindir dos indivíduos e de sua participação psicológica. Assim, a questão da precedência e da origem primeira entre esses dois âmbitos parece incontornável. Para além da tensão entre sua correção gramatical e seu uso no discurso, o hífen vale como uma metáfora gráfica de uma questão epistemológica de grande valor em psicologia social. Sua presença entre o “psico” e o “social” implicitamente assume que a articulação entre esses dois campos heterogêneos da experiência é posterior a sua existência. Sua ausência aponta para um quiasma entre os campos, sugerindo um elo anterior e irredutível a eles. Este livro, oriundo de um simpósio dos docentes do Programa em Psicologia Social do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP), dedica-se a essa questão e se propõe a apresentar diferentes teorias sobre a questão do hífen em psicologia social.
É psicanalista, doutor pela Universidade Paris VII, professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP) e membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental. Coordena, com Christian Dunker e Vladimir Safatle, o Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP. É autor dos livros "Le fictionnel en psychanalyse: une étude à partir de l’oeuvre de Fernando Pessoa" (Presses Universitaires du Septentrion, 2000) e "Linguagens e pensamento: a lógica na razão e desrazão" (Casa do Psicólogo, 2007) e coorganizador dos livros "Histeria & gênero" (nVersos, 2014) e "Patologias do social: arqueologias do sofrimento psíquico" (Autêntica, 2018).
Saiba maisSaiba mais
Prefácio
Parte 1 – Psicologia social: história e fundamentos
O psico-social/psicossocial – papel do hífen
O fenômeno psicossocial e o problema de sua proposição
A fractalidade da psicologia social
Psico-social ou psicossocial? A questão do hífen e do bio-psico-social, ou da questão ortográfica à epistemologia
Parte 2 – Psicologia social e comunidades
A questão “psico-social” a partir do estudo de experiências anômalas/religiosas
A visão de Arakcy Martins Rodrigues sobre a ponte indivíduo-sociedade
Psicologia social crítica na periferia do capitalismo: a elaboração do sofrimento social e a luta por reconhecimento recíproco nas periferias
Parte 3 – Psicologia social e psicanálise
A queda do hífen: história, política e clínica
A psicanálise como hífen psicossocial
O sofrimento como hífen na teoria social freudiana e sua atualidade. O exemplo das modificações corporais
Parte 4 – Psicologia social e cidadania
A imagem: unificação psicossocial por meio da experiência estética
Psicologia na saúde: sociopsicológica ou psicossocial?
Conhecimento, opinião, estereótipo e o medo da alteridade
Parte 5 – Psicologia social e método
A psicologia social como projeto utópico
O psíquico e o social: releituras e reflexões em busca de uma reconstrução do sentido
Leituras políticas de questões de método: o caso da psicologia social
Parte 6 – Psicologia social e trabalho
Os hifens das relações eu-outro e homem-trabalho no século XXI
Psicossocial: continuum ontológico do processo relacional
O trabalho como fenômeno psicossocial
Stress, coping, burnout, resiliência: troncos da mesma raiz